PERANTE A TRAGÉDIA NO SUDOESTE ASIÁTICO
Uma vez mais a morte e a desolação atingiram os mais débeis e os mais pobres, ceifando a vida de mais de cem mil pessoas, a maioria crianças. O tsunami que teve o seu centro na ilha indonésia de Sumatra atingiu todos os países do sudoeste asiático: Indonésia, Sri Lanka, Índia, Tailândia, Ilhas Maldivas, Malásia, Birmânia tendo chegado até à Somália e à costa africana. A tragédia pode continuar a avançar com o perigo da extensão de epidemias aos que sobreviveram.
E tudo isto não se resume somente a desastres naturais. Como têm chamado a atenção muitos peritos em maremotos, não se pode separar as suas causas e efeitos das acções humanas. A urbanização descontrolada nas praias, a desflorestação … aumentam os riscos de que este tipo de terramotos se desencadeiem, aumentando, sobretudo, a ampliação dos seus efeitos. Se tivesse existido uma rede de alerta , muitíssimas vidas teriam sido salvas. O maremoto chegou à Índia e ao Sri Lanka quatro horas depois de se ter produzido. Como diz Tad Murty, da Universidade de Manibota: “Não há razão para que um só individuo morra por causa de um tsunami (…) As ondas são totalmente previsíveis. Dispomos de gráficos das ondas que aconteceram em todo o oceano Indico.” De resto o movimento sísmico foi detectado desde o Pacífico mas não existiam sistemas de comunicação para avisar. Tivesse sido possível afastar as populações algumas centenas de metros das praias, subindo aos terraços e lugares elevados e teriam sido salvas dezenas de milhares de pessoas.
Os desastres “naturais” não são independentes da realidade do sistema de dominação em que vivemos. Por um lado, os Estados que possuem os sistemas de detecção de desastres naturais (como os EUA e o Japão) não os colocam à disposição dos restantes países. Por outro lado, os Estados e as classes dominantes dos países do sudoeste asiático preferem investir os seus recursos em armamento ou então acumulam capital em vez de salvaguardarem a vida das populações. Diz-se que estes Estados não podiam investir os seus recursos em tecnologia que evitasse a morte de pessoas. E, no entanto, a Índia é um dos poucos Estados que dispõe de recursos para desenvolver a sua própria indústria de armamento nuclear. Os interesses e objectivos do sistema político, burocrático e militar que domina este mundo estão em contraposto com o desenvolvimento da humanidade. Esta é a crua realidade do domínio e devemos enfrentá-la de frente dando respostas que acompanhem a imensidão de mensagens e informações que nos chegam. Por exemplo, o cinismo dos meios de comunicação – porta-vozes do poder – é significativo deste facto: no inicio do desastre, a notícia nos telejornais colocava ao mesmo nível a onda de frio que chegou à Península (Ibérica) e o que ia ocorrendo no sudoeste asiático e, mais tarde, a informação deslocada da tragédia, ocultava e muito as responsabilidades que nada tinham a ver com as “naturais”. Algumas das razões para este tipo de procedimento são claras: não há responsáveis, não se podia nem se pode fazer nada, os desastres naturais não se podem evitar e as pessoas só podem observar e sofrer as consequências. O único recurso de solidariedade é a doação a ONGs ou organizações similares, extraindo os bancos dos respectivos depósitos benefícios incríveis, chegam a cobrar entre dois a quatro euros de comissões por cada transacção feita, como já foi denunciado por muitas pessoas.
Ocultadas as causas e neutralizada a actividade humana – pouco se fala dos actos de heroísmo e do “sentir comum” de muitas pessoas que salvaram centenas de vidas – pouco poderemos fazer, para além de nos lamentarmos e delegar noutros – instituições internacionais, governos, etc – a solução dos problemas, precisamente nos mesmos que não quiseram colocar todos os meios para se evitar, não o desastre natural, mas as consequências nas vidas humanas. Este é o crime que nos ocultam, esta é a responsabilidade que não assumiram.
Por outro lado, a sociedade, a gente comum, não pode escudar-se na “impotência” para evitar a reflexão e o necessário protagonismo, mesmo que seja de pensamento e de sentimento de proximidade humana com as vítimas ou enfrentando a situação de subdesenvolvimento dos países afectados – basta verificar como funcionou o Estado numa emergência menor como o temporal de neve.
A solidariedade que está a nascer espontaneamente por parte de muitíssimas pessoas, muitas delas comprometidas em associações de voluntariado é um sinal de reacção fundamental. Solidariedade que se deve estender a dezenas de milhar de irmãos imigrantes indianos e bengalis … que habitam mesmo ao nosso lado e de quem nunca se lembra. Reclamamos o direito inalienável para que possam abandonar os seus locais de origem, fazendo-o livremente, tendo ou não documentação, podendo voltar quando o desejarem.
Desvendar a verdade sobre este sistema e os seus governos e assegurar a mais ampla e protagonista solidariedade, desde baixo, desde os locais de trabalho, de estudo, nos bairros, etc … é fundamental para se conquistar uma dignidade humana, para além dos Estados e do sistema, e, para se garantir a nossa vida e dos nossos semelhantes.
In, Socialimo Libertário, 30 de Dezembro de 2004
www.socialismolibertario.org
E tudo isto não se resume somente a desastres naturais. Como têm chamado a atenção muitos peritos em maremotos, não se pode separar as suas causas e efeitos das acções humanas. A urbanização descontrolada nas praias, a desflorestação … aumentam os riscos de que este tipo de terramotos se desencadeiem, aumentando, sobretudo, a ampliação dos seus efeitos. Se tivesse existido uma rede de alerta , muitíssimas vidas teriam sido salvas. O maremoto chegou à Índia e ao Sri Lanka quatro horas depois de se ter produzido. Como diz Tad Murty, da Universidade de Manibota: “Não há razão para que um só individuo morra por causa de um tsunami (…) As ondas são totalmente previsíveis. Dispomos de gráficos das ondas que aconteceram em todo o oceano Indico.” De resto o movimento sísmico foi detectado desde o Pacífico mas não existiam sistemas de comunicação para avisar. Tivesse sido possível afastar as populações algumas centenas de metros das praias, subindo aos terraços e lugares elevados e teriam sido salvas dezenas de milhares de pessoas.
Os desastres “naturais” não são independentes da realidade do sistema de dominação em que vivemos. Por um lado, os Estados que possuem os sistemas de detecção de desastres naturais (como os EUA e o Japão) não os colocam à disposição dos restantes países. Por outro lado, os Estados e as classes dominantes dos países do sudoeste asiático preferem investir os seus recursos em armamento ou então acumulam capital em vez de salvaguardarem a vida das populações. Diz-se que estes Estados não podiam investir os seus recursos em tecnologia que evitasse a morte de pessoas. E, no entanto, a Índia é um dos poucos Estados que dispõe de recursos para desenvolver a sua própria indústria de armamento nuclear. Os interesses e objectivos do sistema político, burocrático e militar que domina este mundo estão em contraposto com o desenvolvimento da humanidade. Esta é a crua realidade do domínio e devemos enfrentá-la de frente dando respostas que acompanhem a imensidão de mensagens e informações que nos chegam. Por exemplo, o cinismo dos meios de comunicação – porta-vozes do poder – é significativo deste facto: no inicio do desastre, a notícia nos telejornais colocava ao mesmo nível a onda de frio que chegou à Península (Ibérica) e o que ia ocorrendo no sudoeste asiático e, mais tarde, a informação deslocada da tragédia, ocultava e muito as responsabilidades que nada tinham a ver com as “naturais”. Algumas das razões para este tipo de procedimento são claras: não há responsáveis, não se podia nem se pode fazer nada, os desastres naturais não se podem evitar e as pessoas só podem observar e sofrer as consequências. O único recurso de solidariedade é a doação a ONGs ou organizações similares, extraindo os bancos dos respectivos depósitos benefícios incríveis, chegam a cobrar entre dois a quatro euros de comissões por cada transacção feita, como já foi denunciado por muitas pessoas.
Ocultadas as causas e neutralizada a actividade humana – pouco se fala dos actos de heroísmo e do “sentir comum” de muitas pessoas que salvaram centenas de vidas – pouco poderemos fazer, para além de nos lamentarmos e delegar noutros – instituições internacionais, governos, etc – a solução dos problemas, precisamente nos mesmos que não quiseram colocar todos os meios para se evitar, não o desastre natural, mas as consequências nas vidas humanas. Este é o crime que nos ocultam, esta é a responsabilidade que não assumiram.
Por outro lado, a sociedade, a gente comum, não pode escudar-se na “impotência” para evitar a reflexão e o necessário protagonismo, mesmo que seja de pensamento e de sentimento de proximidade humana com as vítimas ou enfrentando a situação de subdesenvolvimento dos países afectados – basta verificar como funcionou o Estado numa emergência menor como o temporal de neve.
A solidariedade que está a nascer espontaneamente por parte de muitíssimas pessoas, muitas delas comprometidas em associações de voluntariado é um sinal de reacção fundamental. Solidariedade que se deve estender a dezenas de milhar de irmãos imigrantes indianos e bengalis … que habitam mesmo ao nosso lado e de quem nunca se lembra. Reclamamos o direito inalienável para que possam abandonar os seus locais de origem, fazendo-o livremente, tendo ou não documentação, podendo voltar quando o desejarem.
Desvendar a verdade sobre este sistema e os seus governos e assegurar a mais ampla e protagonista solidariedade, desde baixo, desde os locais de trabalho, de estudo, nos bairros, etc … é fundamental para se conquistar uma dignidade humana, para além dos Estados e do sistema, e, para se garantir a nossa vida e dos nossos semelhantes.
In, Socialimo Libertário, 30 de Dezembro de 2004
www.socialismolibertario.org
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