2004-03-20

EM DEFESA DE MÁRIO SOARES

O TERRORISMO COMBATE-SE COM CORAGEM E COM OFENSIVA DEMOCRÁTICA!

Os diversos comentários que surgiram sobre as declarações de Mário Soares a propósito de hipotéticas negociações com organizações terroristas, revelam falta de coragem política por parte de quem os pronuncia para além de se situarem, com algumas nuances, dentro daquilo que são as soluções securitárias e belicistas desenvolvidas por Bush & Blair. Mesmo no Partido Socialista, parece que muitíssimos poucos dirigentes compreenderam o que se passou em Espanha, nomeadamente quanto às propostas de Zapatero.

Todos sabemos, com exemplos concretos e sangrentos, qual o resultado das soluções securitárias e belicistas de combate ao terrorismo. Mas ninguém sabe qual o resultado que teria uma solução política de combate ao terrorismo.

O terrorismo não é algo que tenha começado depois do 11 de Setembro em Nova Iorque. Também não é redutível a acções de loucos. Tentar combater um terrorismo assim desenhado, terá como resultado o combate a algo que não existe e o registo sangrento de acções como aquelas que temos visto.

O terrorismo tal e qual o conhecemos e com origem no chamado mundo islâmico, recolhe as suas origens em anos e anos de agressões aos povos do Médio Oriente e de desrespeito por determinações das Nações Unidas. O terrorismo surge como um conjunto de acções desesperadas perante as acções das grandes potências que se arvoram no direito de fazer lei perante povos que são claramente agredidos sem direito de resposta.

Os terroristas que hoje actuam com acções de âmbito quase planetário, obviamente que não representam a vontade dos povos, mas esses povos podem, em muitos momentos, ver nessas acções irracionais, respostas a anos e anos de agressões por parte do belicismo das grandes potências mundiais. Neste sentido, propor uma acção política contra o terrorismo, passa por dar o direito de livre auto-determinação aos povos agredidos, passa pela resolução de problemas regionais nunca dantes resolvidos não obstante as resoluções da ONU, passa pelo retirada de qualquer tropa ou tropas de ocupação em qualquer parte do Mundo, passa pelo reconhecimento internacional da faculdade de qualquer povo ou povos poderem resolverem os seus próprios destinos sem interferências ou agressões externas.

O terrorismo também se combate com a internacionalização do movimento democrático pela Paz e contra a Guerra. Se o dia de hoje, 20 de Março, pudesse ser estendido a todo o Planeta, nomeadamente com acções no Afeganistão e no Iraque, teríamos a voz popular e democrática contra a guerra e contra o terrorismo nos próprios países que se referenciados pelas potências mundiais, como os “ninhos” do actual terrorismo. A voz democrática contra a guerra e o terrorismo estaria a conquistar politicamente apoios nesses países para outro tipo de respostas às agressões imperialistas.

A securitização do Planeta, a ideia de que se pode fazer de cada país uma espécie de fortaleza anti-terrorista, quase que equivale dar-se implicitamente razão ao muro que Ariel Sharon está a construir com o argumento de que se trata de uma forma de responder ao terrorismo de palestinianos.

A securitização do Planeta somente serve a febre belicista dos diversos Bushs e acções terroristas perpetradas por quem não tem qualquer apoio popular. A securitização do Planeta cria, isso sim, uma nova bipolarização, estando de um lado a força bélica das potências mundiais e do outro os bunkers escondidos dos grandes terroristas. No meio estão os povos e as vítimas inocentes do resultado desta bipolarização!

Razão tinham os espanhóis que se manifestavam na véspera das eleições que ditaram a saída de Aznar, quando afirmavam: AS GUERRAS SÃO VOSSAS, OS MORTOS SÃO NOSSOS!!

O terrorismo não é solução para nada. Mas as soluções preconizadas pelos governos ocidentais somente têm contribuído para o fortalecimento dos terroristas e para o crescente impacto das suas acções assassinas e irracionais.

O terrorismo tem de ser combatido como nunca o foi até agora: com capacidade democrática, com mobilização popular, com o estabelecimento de um diálogo fluido e sem agressões entre os povos, para além dos governos e dos Estados.

Avançar com a sugestão do diálogo com organizações terroristas é, antes de mais, demonstrar coragem política para, cara a cara e olhos nos olhos, se dizer que a resolução dos problemas da humanidade não passa por belicismo e terrorismos. A recusa dessas organizações para qualquer negociação seria vista como uma prova da sua evidente fraqueza quanto ao suporte popular que nunca tiveram.

A proposta de Mário Soares não é sinónimo de fraqueza perante o terrorismo. É, isso sim, uma demonstração clara da superioridade política das soluções democráticas e de respeito pela vontade dos povos em relação ao belicismo e ao terrorismo.

João P.Freire