2003-10-14

O DIA DA DEFESA NACIONAL, AS FORÇAS ARMADAS E O QUE VALE A PENA QUESTIONAR!

O ministro Paulo Portas resolveu pegar numa iniciativa do governo Guterres e está a convocar (sem direito a falta por parte dos convocados!) todos os jovens recenseados este ano para comparecerem no chamado "Dia da Defesa Nacional". O que se passará nesse dia será provavelmente um "comício do regime", como lhe chamou a Juventude Socialista (JS). Entre apoios de deputados do PS e a rejeição por parte da JS e da JSD, o dito "Dia da Defesa Nacional" pode muito bem constituir mais um marco do actual governo para enaltecer a submissão aos interesses do gendarme norte-americano na escalada de ocupação planetária em nome da "luta contra o terrorismo". Aos jovens portugueses é reservado o papel de terem de estar "às ordens" para marcharem para o Iraque ou para qualquer outro local que Bush ordene aos seus amigos Portas e Durão Barroso. No "Dia da Defesa Nacional" ficará propositadamente em branco questões que merecem ser discutidas: o exercicio de liberdades e direitos democráticas no interior das Forças Armadas; os perigos da profissionalização das Forças Armadas com o fim do Serviço Militar Obrigatório (SMO) num quadro de globalização militar unilateral comandada pela única super-potência; porque razão Portugal está na NATO; como são decididas as políticas de defesa nacional e qual a participação dos cidadãos...
Nada disto será discutido e se alguém o abordar, decerto que será desde logo abafado. O "Dia da Defesa Nacional" prova também a urgência de um debate sobre o assunto na esquerda e particularmente no Partido Socialista. É estranha a posição do deputado socialista Marques Júnior (ex-capitão de Abril) ao manifestar apoio à iniciativa de Portas e do actual governo. As questões de defesa nacional não são nem podem ser abstractas. Não há um interesse nacional abstracto. Ainda para mais num momento em que a globalização liberal é acompanhada de músculo militar onde o governo PSD/CDS se tem assumido como um autêntico moço de recados. Estamos de acordo com a JS quando esta "não está disposta a aceitar que existam cortes orçamentais na saúde ou na prevenção dos incêndios para depois se gastarem milhares de euros na deslocação e alimentação de jovens para assistirem a um comício do regime"
(in,Público de 13 do corrente). MAS É PRECISO TAMBÉM QUESTIONAR A CRESCENTE FORMALIZAÇÃO DA DEMOCRACIA E O CRESCENTE ABURGUESAMENTO DAS DIVERSAS PARTES DO APARELHO DE ESTADO, como as Forças Armadas!