2003-11-22

ESTALINISMO PORTUGUÊS SUAVE:EX-ESTALINISTAS DISCUTEM O ESTALINISMO !

(de acordo com relato do Público de 03.11.22)

Pacheco Pereira (PP), ex-estalinista-maoista, actual liberal pró-Bush, participou num colóquio na Faculdade de Letras de Lisboa considerando que o PCP teve referências a Estaline de longe, muito menores que outros partidos similares. É claro que Pacheco Pereira, não disse que verdadeiro estalinista era ele nos seus tempos de maoista. E com todos os requisitos necessários, nomeadamente o culto da personalidade, provavelmente com direito a foto do pai dos povos na sua mesinha de cabeceira.


Outra tirada de PP é digna de registo: Do ponto de vista histórico, o estalinismo é o comunismo. As expressões podem ser usadas indiferentemente. Para quem foi educado com as técnicas e os métodos do mais puro estalinismo, convém reconhecer que a educação resultou em pleno! PP prova à saciedade que historicamente, desde os tempos da chamada guerra fria, sempre foi útil à propaganda do liberal-capitalismo a existência de uma URSS estaliniana (mesmo na variante brejneviana), na qual o totalitarismo e a repressão fossem identificados com comunismo e com socialismo. PP agora que passou para o lado do liberalismo mantém-se, no entanto, fiel à lógica da guerra fria ...

Por outro lado, com esta sua apreciação acaba por perseguir, tal como Estaline e os seus sucessores, todos os militantes comunistas que tiveram a coragem, contra-a-corrente na sua época, de afirmar lutando, mesmo com o custo da própria vida, que estalinismo foi terror, repressão, totalitarismo e nunca mas nunca socialismo ou comunismo!

Falar em Estaline é um bom motivo para se relembrar todos os que foram assassinados, como Trotsky ou Andreu Ninn, é um bom motivo para relembrar o papel absolutamente nojento da burocracia soviética durante o guerra civil no vizinho Estado Espanhol! Será que isto foi falado durante o colóquio?


De Fernando Rosas, actual dirigente do Bloco de Esquerda, e, um intelectual com uma actividade intelectual e militante que merecem respeito, ficam algumas afirmações que revelam que algum estalinismo do seu passado ainda não foi completamente superado. Desde logo, a estranha diferenciação entre uns denominados estalinismo de esquerda e estalinismo de direita ... não se percebe nem se compreende qual a linha de fractura para definir essas duas espécies de totalitarismo e de terror...


Depois, ainda Fernando Rosas, terá feito a afirmação de que o cunho estalinista foi o responsável para a durabilidade como movimento clandestino num cenário de adversidade ... O que é o cunho estalinista que assegura durabilidade? Porque razão o mesmo cunho não valeu durante a revolução espanhola? Porque se fala em cunho estalinista e se ignora que isso é sinónimo de depurações e desaparecimentos da História como forma de se garantir a durabilidade da organização?


O relato do Público de 22 de Novembro, termina com uma afirmação que terá sido feita Sentimos menos incomodidade em estar numa sala com um ex-estalinista do que com um ex-nazi. Com o devido respeito pelos milhares de comunistas que durante décadas não puderam ter uma outra informação de Estaline que não fosse a que era veículada pela máquina internacional do culto da personalidade, o colóquio da Faculdade de Letras, a avaliar pelo relato do Público, parece mais uma peça enquadrada num acto de branqueamento da História. E em nome de uma alternativa socialista que se quer nacional e internacionalmente para a globalização liberal-capitalista, isso é inadmissível e insustentável ...

João P.Freire (Editor)