VIVA A REVOLTA DO POVO BOLIVIANO!
O processo massivo e insurreccional que se viveu e vive na Bolívia nas últimas semanas oferece uma enorme lição com a qual é necessário aprender e reflectir de um modo activo. As mobilizações iniciadas em Fevereiro e relançadas no mês de Setembro contra a venda e a expropriação dos recursos de gaz retomam a heróica revolta de Cochabamba em 2000, com a qual a cidade foi tomada pela população local e auto-organizada pelos trabalhadores e cidadãos com a Coordenadora da Água e da Vida. Falamos de um processo de revolta e de insurreição massivas que se tem desenvolvido desde há três anos, o qual retoma as melhores tradições de luta do povo boliviano durante os anos 70 e principalmente as da mais importante revolução que aconteceu no continente latino-americano, a boliviana em 1952. Um processo que não pode ser separado da nova época social que vive o continente latino-americano, começando pela incendiária e revolucionária Argentina de Dezembro de 2001 e todo o processo permanente de revolta e de instabilidade que vive o Equador desde há mais de uma década. (ver a este respeito Una nueva época en América Latina, Piero Neri y Manuel Martinez, Utopía Socialista nº 0)
Uma revolta social em que são protagonistas uma pluralidade de sujeitos, desde os camponeses e os cocaleros ayamaras e quechuas até ao proletariado urbano e da periferia de La Paz, desde os estudantes e professores até aos mineiros de Huanuni. Desde Setembro de 2003, mobilizaram-se centenas de milhares de camponeses de Altiplano contra o governo de Sánchez de Lozada, tendo o processo alcançado o seu ponto mais alto na periferia urbana de La Paz, no El Alto, cidade de quase um milhão de habitantes, tomada pelos seus cidadãos desde 12 de Outubro, auto-organizando-se e partir de mais de 500 juntas de moradores (vecinales), que elegeram delegados revogáveis e que juntamente com a COB (central sindical histórica boliviana) local organizaram milícias populares que resistiram à tentativa de tomada da cidade por parte do exército. Que matou mais de 140 pessoas desde Fevereiro deste ano.
Sem dúvida, a revolta popular encontra o seu pico em El Alto com o inicial mas importantíssimo nível de auto-organização existente. De um modo similar surgiram por todo o lado juntas de moradores, organizações municipais abertas, comités de base, num processo espontâneo, ainda que muito débil e desigual em relação à cidade altenha. Uma revolta que conseguiu acabar com o governo de Sánchez de Lozada e que tende a transbordar ainda que sem conseguir fazer chegar a sua hegemonia até às direcções da esquerda tradicional que tentam canalizar o processo para o Parlamento (o MAS de Evo Morales).
Neste sentido, foi muito interessante a reunião do comité alargado da COB depois da demissão do governo. Onde 11 sindicatos mostraram-se a favor de uma breve trégua mas sem nenhuma concessão ao novo governo de Mesa, 8 sindicatos votaram pelo seu derrube imediato e 10 abstiveram-se. Uma amostra evidente da radicalização que vive o processo. Assim, de modo significativo, o novo governo de Mesa constituiu-se sem o apoio dos partidos políticos.
No entanto, como revolucionários e socialistas, temos de criticar os limites do movimento e a revolta. O carácter difuso de um muito negativo nacionalismo anti-chileno durante a revolta combina com um início de auto-actividade que nasce como reacção espontânea contra a tentativa de transnacionalização dos recursos naturais. Estes aspectos explicam o porquê da insuficiência de um protagonismo social que não é acompanhado pelo desenvolvimento de uma lógica global que situe a auto-organização das classes subalternas como a condição indispensável para o crescimento do movimento. Para ele é indispensável romper com toda a forma de chauvinismo que só serve para alimentar políticos populistas como Evo Morales, com qualquer tipo de confiança no novo governo de Mesa e nas instituições parlamentares enquanto inimigos declarados que são da rebelião e porque quiseram integrar a revolta através dos seus mecanismos institucionais. É indispensável reforçar e impulsionar a auto-actividade social, criando por todo o lado comités populares e juntas de moradores, como o coração palpitante do único local onde pode crescer a consciência que impulsione, cada vez mais, a rebelião.
In, www.socialismolibertario.org, Novembro de 2003.
Tradução de João P Freire
Uma revolta social em que são protagonistas uma pluralidade de sujeitos, desde os camponeses e os cocaleros ayamaras e quechuas até ao proletariado urbano e da periferia de La Paz, desde os estudantes e professores até aos mineiros de Huanuni. Desde Setembro de 2003, mobilizaram-se centenas de milhares de camponeses de Altiplano contra o governo de Sánchez de Lozada, tendo o processo alcançado o seu ponto mais alto na periferia urbana de La Paz, no El Alto, cidade de quase um milhão de habitantes, tomada pelos seus cidadãos desde 12 de Outubro, auto-organizando-se e partir de mais de 500 juntas de moradores (vecinales), que elegeram delegados revogáveis e que juntamente com a COB (central sindical histórica boliviana) local organizaram milícias populares que resistiram à tentativa de tomada da cidade por parte do exército. Que matou mais de 140 pessoas desde Fevereiro deste ano.
Sem dúvida, a revolta popular encontra o seu pico em El Alto com o inicial mas importantíssimo nível de auto-organização existente. De um modo similar surgiram por todo o lado juntas de moradores, organizações municipais abertas, comités de base, num processo espontâneo, ainda que muito débil e desigual em relação à cidade altenha. Uma revolta que conseguiu acabar com o governo de Sánchez de Lozada e que tende a transbordar ainda que sem conseguir fazer chegar a sua hegemonia até às direcções da esquerda tradicional que tentam canalizar o processo para o Parlamento (o MAS de Evo Morales).
Neste sentido, foi muito interessante a reunião do comité alargado da COB depois da demissão do governo. Onde 11 sindicatos mostraram-se a favor de uma breve trégua mas sem nenhuma concessão ao novo governo de Mesa, 8 sindicatos votaram pelo seu derrube imediato e 10 abstiveram-se. Uma amostra evidente da radicalização que vive o processo. Assim, de modo significativo, o novo governo de Mesa constituiu-se sem o apoio dos partidos políticos.
No entanto, como revolucionários e socialistas, temos de criticar os limites do movimento e a revolta. O carácter difuso de um muito negativo nacionalismo anti-chileno durante a revolta combina com um início de auto-actividade que nasce como reacção espontânea contra a tentativa de transnacionalização dos recursos naturais. Estes aspectos explicam o porquê da insuficiência de um protagonismo social que não é acompanhado pelo desenvolvimento de uma lógica global que situe a auto-organização das classes subalternas como a condição indispensável para o crescimento do movimento. Para ele é indispensável romper com toda a forma de chauvinismo que só serve para alimentar políticos populistas como Evo Morales, com qualquer tipo de confiança no novo governo de Mesa e nas instituições parlamentares enquanto inimigos declarados que são da rebelião e porque quiseram integrar a revolta através dos seus mecanismos institucionais. É indispensável reforçar e impulsionar a auto-actividade social, criando por todo o lado comités populares e juntas de moradores, como o coração palpitante do único local onde pode crescer a consciência que impulsione, cada vez mais, a rebelião.
In, www.socialismolibertario.org, Novembro de 2003.
Tradução de João P Freire
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