2003-12-18

NATAL E ANO NOVO: PENSAR UM POUCO EM ACÇÕES QUE TRANSFORMEM O MUNDO E ACABEM COM A MISÉRIA, O SOFRIMENTO, AS GUERRAS E A HIPOCRISIA!

No Ocidente, o Natal e o Ano Novo são momentos de consumismo e de muita hipocrisia. Com o devido respeito por quem nas diversas Igrejas se preocupa e age em prol dos explorados, a regra é a invocação da pobreza e do sofrimento como pieguice que nada resolve ... A imagem do presépio corresponde a essa hipocrisia, ainda por cima alimentada como imagem despegada da realidade por quem, ao longo do ano, goza de facilidades e privilégios que inevitavelmente os coloca entre aqueles que precisam de ser combatidos para que acreditemos que um outra vida e outro planeta são possíveis!

No Natal é relembrada a família. É a família que o liberalismo quer enfatizar. A família que os grandes gostam de mostrar como referência em relação às que nada são e que nada continuarão a ser. Na nossa perspectiva e porque estamos neste Ocidente, lembramos todas as famílias que tiveram alguém - um ou vários! - que foram despedido, que foram humilhados, que na América do Sul ou em qualquer outro ponto do Planeta tiveram a coragem de se revoltar por outra vida, que nos países totalitários têm um familiar preso e não desistem de lutar ... porque estas famílias constituem a família dos querem e podem lutar por uma outra sociedade, por outra vida, pela sua dignidade!

O Ano Novo, o primeiro de Janeiro de 2004, é considerado DIA DA PAZ. De uma paz que tem sido usada como Orwell a mostrou que os totalitários a usariam ... a paz era afinal a guerra! E a paz de Bush e de Blair e de Durão Barroso tem sido guerra e depois ocupação! Os novos totalitários do século XXI são os liberais da globalização. São aqueles que têm militarizado o modo de fazer política invocando, como qualquer totalitário, a defesa contra inimigos que ninguém conhece ... Os direitos individuais e colectivos, as liberdades, começam a ser para esta gente algo de perigoso que querem controlar a todo o custo ...

O Natal e o Ano Novo podem e devem ser momentos para pensarmos mais um pouco em acções QUE TRANSFORMEM O MUNDO E ACABEM COM A MISÉRIA, O SOFRIMENTO, AS GUERRAS E A HIPOCRISIA!


João P.Freire

2003-12-16

LULA ELIMINA A DEMOCRACIA INTERNA NO P.T.

A imprensa prefere noticiar “PARTIDO DE LULA EXPULSA RADICAIS DE ESQUERDA” (in Público de 16.12.03).

Na realidade Lula e a direcção do PT tiveram que iniciar o processo de expulsão de todos aqueles que têm denunciado a crescente cedência ao sistema financeiro internacional por parte do governo brasileiro pondo em causa as promessas eleitorais que levou a maioria do Brasil a eleger Lula. Tiveram de iniciar esse processo porque a aplicação de políticas liberais e de direita por um governo de um partido de esquerda obriga a que esse partido elimine a democracia interna. Já foi assim em Portugal, já foi assim em Inglaterra, já foi assim em Espanha, ..., tem sido assim com as diversas experiências governativas dos partidos afectos à “Internacional Socialista”. São exemplos da falta de coragem política da social-democracia para cortar com o capitalismo global e realizarem reformas profundas num sentido democrático e socialista!

Lula não pode expulsar a maioria que o elegeu. É mais fácil expulsar companheiros que ajudaram, com o próprio Lula, a construir o Partido dos Trabalhadores, apelidando-os de “radicais de esquerda” ou outra coisa qualquer. De certeza que os amigos de Lula no Partido Liberal aplaudirão!

Mas os sem-terra não! Os trabalhadores também não! Os que vivem nas favelas igualmente não! A esperança dos milhões que elegeram Lula também não!

Heloisa Helena, Babá, Luciana Genro e João Fontes são a expressão da resistência daqueles que não querem o incumprimento das promessas eleitorais de Lula e que não querem que o PT que ajudaram a construir seja deformado pelas cedências ao liberalismo!

ABORTO E FALENCIAS: EXEMPLOS DO LIBERALISMO DOS NOSSOS DIAS!

17 mulheres respondem em Aveiro por um acto que a lei classifica de crime ...

Em Pevidém, Guimarães, os 200 trabalhadores lutam pelos seus direitos quando a fábrica – a empresa textil TARF - em que trabalham está às portas de fechar por falência...

Os dois casos aparentemente não têm nada a ver um com o outro. No entanto, exibem a capacidade desta sociedade para assegurar direitos individuais e direitos sociais. Falamos de realidades do liberalismo dos nossos dias ...

As 17 mulheres e os 200 trabalhadores são a parte visível das milhares, dos milhões de razões que existem por esse Mundo, cá dentro e lá fora, que justificam a luta por uma alternativa socialista, democrática e libertária aos desmandos de toda a espécie do liberalismo globalizado.

2003-12-14

SADDAM FOI CAPTURADO ... E A PAZ VAI SER CONSEGUIDA?

Com a pompa que o acontecimento impunha, até para que Bush possa subir um pouco na sua popularidade interna nos EUA, os ocupantes do Iraque anunciaram a captura do ex-ditador Saddam Hussein. Para quem não estivesse atento, o tom do anúncio da captura sugeria que os americanos tinham finalmente encontrado ... as armas de destruição há tanto tempo procuradas! Mas não ... afinal a arma procurada era o “ás de espadas” ...

Mesmo assim, a colossal arma de guerra americana, pública & privada, continuou a precisar da preciosa colaboração curda para encontrarem, numa cidade iraquiana, o ex-ditador iraquiano.

Tal como no momento da entrada dos americanos em Bagdad, também agora as televisões noticiaram grandes manifestações de regozijo dos iraquianos pela captura de Saddam, só que, mais uma vez, apoiadas em imagens que mostravam uns quantos a festejarem e outros quantos a darem tiros para o ar ... Mas tal como no início da ocupação permanecerá a dúvida sobre se, a partir de agora, essa ocupação passará a ser apoiada ou então tolerada pelos iraquianos!

Não há ditadores bons e ditadores maus. Como não existem ocupações boas e ocupações más! E o que se passa é que há um ditador que já não o é, mas existe uma ocupação que ainda o é e será por um período que só é controlado pelos ocupantes e nada pelos ocupados.

O Iraque é, até nesta captura de Saddam, um exemplo evidente e significativo da política de mentira que é servida, acontecimento a acontecimento, dia a dia, pelos governantes e governos do liberalismo internacional. Ficámos hoje a saber que afinal um único homem chamado Saddam era afinal a grande ameaça a toda a Paz Mundial ...

Antes de capturarem Saddam, já Bush tentava convencer, a seguir a cada nova morte de soldados americanos ou de outra nacionalidade, que a situação no Iraque tinha melhorado muito desde o momento da ocupação. Para isso até encenou uma ida às escondidas a Bagdad ...

Agora com a captura de Saddam, dizem-nos que a Paz virá muito mais depressa, tal como a democracia ... provavelmente anunciarão também o ... paraíso em terras da antiga Mesopotâmia!!

A dúvida permanecerá sempre e sempre, enquanto que os que anunciam tais benesses forem os ocupantes e fizerem tais anúncios com armas voltadas para o povo ocupado. A dúvida também cresce se nos lembrarmos das liberdades e direitos democráticos que têm vindo a diminuir no interior dos EUA não só desde o 11 de Setembro, mas também desde o início da ocupação do Iraque ... É que quem não consegue ser democrático entre os seus também, de certeza, não conseguirá sê-lo entre estranhos ...

Mas a paz mundial de Bush continuará de vento em pompa ... já foi anunciado que quem se segue, para já com sanções, é a Síria!! O filme repete-se ...

João P.Freire

DUAS PARTES DE UM TODO QUE MERECE SER LIDO OU RE-LIDO

A revista ACTUAL do Expresso de 13 de Dezembro, incluía uma entrevista interessante com o Pedro Abrunhosa. A entrevista aborda diversos temas como o Euro 2004, a política cultural (que não existe nem nunca existiu: existe, isso sim, uma política que promove a desertificação cultural!) de Rui Rio na Câmara do Porto ou a “limpeza” que a mesma Câmara tem imposto aos chamados arrumadores de rua de uma forma que, a qualquer um tal como ao Pedro Abrunhosa, provoca arrepios ainda por cima com uma campanha que é, de facto, macabra.

Sem ser um “diletante da política”, Pedro Abrunhosa mantém um discurso político claro que revela que a intervenção política também existe e num sentido bem definido, com o qual estamos de acordo.

Seleccionamos esta parte:
Expresso: As preocupações políticas que tem demonstrado não o conduzem a uma acção política mais concreta?
Tenho sido equidistante dos partidos. Não quero aproveitamento partidário.

Expresso: Não quer que se aproveitem de si?
Exactamente. Como a política cívica é feita nos quadros partidários e qualquer actividade política é cerceada ao cidadão, não é possível aprofundar as questões. Porque ou me deixo engolir pela máquina partidária ou continuo a ser eu, a ter a minha voz e a minha postura. Acredito que o futuro do país passa por um alternativa de esquerda que resulte da convergência das maiores forças da oposição. Tem sido o PS a obstruí-la, depois do 11 de Novembro de 75, ou o PCP, por razões que se prendem com a antiga direcção. Agora temos o Bloco de Esquerda. O PSD percebeu que é melhor ter um elefante dentro de portas do que tê-lo na loja de porcelana. E de facto foi uma jogada inteligente, conferiu-lhes maioria. A esquerda tem de aprender com isto. Porque estamos lamentavelmente à direita e temos o Governo mais à direita que já tivemos – com uma política doentiamente neoliberal. Estou plenamente de acordo com o Francisco Louçã. Esta política de educação tem sido lamentável. Mas também tem sido em relação à saúde, que cada vez mais é um luxo, quando na verdade é um direito constitucional. Só falta privatizar a justiça. Aquilo que são as grandes vertentes da coesão política nacional para melhorar a qualidade de vida dos portugueses estão agora entregues ao tal neoliberalismo desenfreado que a mim me preocupa. O fosso social que se está a criar vai originar um conflito grave. A velha máxima “tomemos conta dos pobres antes que os pobres tomem conta de nós” começa a fazer sentido. A situação é assustadora.

Na PÚBLICA (a revista de Domingo do Público) de 14 de Dezembro, um artigo não passa despercebido. Com o título UCRÂNIA: MORTOS À FOME POR DECISÃO DE ESTALINE, o artigo relembra porque razão qualquer socialista não é estalinista e porque razão a deformação estalinista da revolução de 1917 constituiu uma das maiores monstruosidades totalitárias que a História regista. Confundir o estalinismo com o socialismo só pode servir a todos aqueles que nunca foram socialistas ou então áqueles que continuam a precisar de uma monstruosidade para perpetuarem a realidade não menos monstruosa do liberalismo e do capitalismo.

Ficam três passagens do referido artigo.
A primeira : (...) Na Ucrânia os camponeses resistiam à colectivização forçada da agricultura, iniciada em 1929. Membros do Partido Comunista local contestavam os “diktats” de Moscovo, até por eles considerados excessivos. Estaline andava, de facto, obcecado com o receio de perder aquela república, como prova a carta que, em Setembro de 1932, escreveu a um dos principais homens de mão. Lazar Kaganovitch: “(...) O grande problema agora é a Ucrânia, onde as coisas vão muito mal. Mal do ponto de vista da linha do Partido. (...) Isto (o PC ucraniano) não é um partido, mas sim um parlamento (...) Se não corrigirmos a situação podemos perder a Ucrânia (...) Ficas com a tarefa de tornar a Ucrânia uma fortaleza da URSS nomais curto espaço de tempo possível. Não te importes com o dinheiro necessário para este objectivo”.
O “pai dos povos” também encontrara uma “solução final”. No caso para aniquilar eventuais aspirações independentistas. E nas terras da União , nesta segunda década do século XX, Estaline dava como certo que eram os camponeses, sobretudo os ucranianos, que constituíam a linha da frente dos nacionalismos.”

A segunda : (...) Alguns ucranianos descrevem o que se passou como um “holocausto esquecido”. Muggeridge já o tinha adivinhado em 1933: “Estou convencido que aquilo que os bolcheviques fizeram às aldeias é um dos mais monstruosos crimes da história, tão terrível que no futuro as pessoas só muito dificilmente acreditarão que tal aconteceu”. Mas as razões para o esquecimento parecem ter sido outras. Na altura, os Governos ocidentais souberam o que se estava a passar, mas optaram por calar-se: a emergência de Hitler fazia de Estaline um eventual aliado. Já no que às opiniões públicas diz respeito, a morte em massa dos ucranianos tornou-se mais um elemento da guerra de propaganda Leste-Oeste.

A terceira: “Querido irmão, ficámos muito contentes por receber um carta tua. A mãe e eu temos uma vida muito dura. A mãe está tão magra e fraca que mal consegue andar, e nós andamos de manhã à noite de uma herdade colectiva para outra, mas eles mandam-nos embora e não nos dão trabalho. As pernas da mãe começaram a inchar e fico muito triste quando penso que em breve ficarei só. As minhas pernas ainda não começaram a inchar, mas doem (...) Quando começar a ficar mais frio e a neve cobrir o solo não restará um só grão para nos manter vivos no Inverno. Mesmo agora temos já tanta fome que, por vezes, desmaio. Peço-te, querido irmão, para nos mandares um pedaço de pão se tiveres dinheiro para o comprar. Não importa se for muito pequeno ou estiver queimado. Nós comemo-lo porque a mãe e eu estamos com tanta fome (...)”. (carta recebida por Mykola Shtefan, que trabalhava clandestino nos caminhos de ferro. Quando chegou à aldeia, a mãe e o irmão tinham morrido. Ninguém lhe soube dizer em que vala comum estavam).