2004-02-25

A PROPÓSITO DO BURACO FINANCEIRO NA CGD...

O buraco no Grupo CGD (Caixa Geral de Depósitos) teve origem na rede que este grupo do Estado controla em Espanha, o Banco Simeon.

Trata-se de um buraco que terá tido origem na gestão fraudulenta de um director do Banco Simeon realizada não recentemente mas já algum tempo. Mas só se soube agora!

A CGD ainda é formalmente um banco de capitais públicos, como se sabe. Mas sendo público em que é que se diferencia de um banco de capitais privados?

Os administradores da CGD serão diferentes dos administradores de um qualquer banco privado? É óbvio que não. Uns e outros cultivam o mesmo tipo de gestão para as empresas. Um tipo de gestão onde a participação dos trabalhadores (de qualquer nível hierárquico!) é diminuta e a caminho do zero.

Os bancos de capitais privados, controlados por grupos económico-financeiros, e a CGD, banco público, controlado pelo accionista Estado de perfil liberalizante e pró-capitalista, não são bancos diferentes, são bancos iguais.

O Estado que temos é um Estado que não é abstracto quanto à sua orientação e dominação político-ideológica e quanto ao seu perfil classista. É um Estado Burguês que mantém os cidadãos arredados do seu direito de participação a todos os níveis da sociedade, incluindo a economia, e mais, impede, cria obstáculos, à participação social e democrática.

Trata-se de um Estado que não dá quaisquer garantias de assegurar a transparência na gestão das empresas. É um Estado que nunca saberá reagir a fraudes como aquela que aconteceu no grupo CGD. É um Estado controlado por aqueles que cultivam a regra da superioridade do privado sobre o público...

Nos dias da globalização capitalista, o Estado nacional e burguês acaba por se tornar numa marionete dessa globalização. Quem nos garante que este Estado Burguês controla as lavagens de dinheiro, evita a corrupção nas empresas públicas e privadas, impõe a aplicação da lei que diz respeito à gestão de qualquer empresa pública ou privada?

O furor privatizador da lógica liberal-capitalista precisa de um Estado como o que temos. É um Estado amigo dos liberais e dos capitalistas ... porque nada faz!

No quadro da economia liberal e capitalista mil e um buracos por gestão danosa são de esperar ... embora só uns quantos são noticiados!!

Obviamente não pedimos ao Parlamento que legisle para termos um outro Estado Democrático, Social e voltado para a criação de condições para uma intervenção generalizada e sistemática dos cidadãos e dos trabalhadores. Apelamos, isso sim, ao desenvolvimento e coordenação das lutas sociais e populares por uma alternativa de esquerda com um programa que:
Reconheça a necessidade da participação dos trabalhadores no controlo e na gestão das empresas;
Reconheça e dê força aos órgãos democráticos dos trabalhadores em cada empresa, pública ou privada;
Encontre no movimento sindical um interlocutor necessário e sério para a definição da orientação económica do país;
Proponha a planificação democrática da economia por contraposição à actual crescente anarquia do salve-se quem puder e do domínio dos patrões e suas organizações.

2004-02-24

Espanha: Há que votar contra a direita reacionária!

Wilebaldo Solano é dirigente da Fundação Andreu Ninn (FAN) e antigo dirigente do POUM. A propósito das próximas eleições no Estado Espanhol publicou no boletim da FAN um interessante artigo, um autentico manifesto, pleno de lucidez política e que deveria também ser um exemplo para todos aqueles que em Portugal anseiam por uma alternativa de esquerda ao actual governo de Durão Barroso e Portas. Governo que não hesitou em deslocar-se a Espanha para apoiar a campanha do partido de Aznar.

Eleições em Espanha em 14 de Março
Há que votar contra a direita reaccionária


Wilebaldo Solano(1)

Neste Boletim(2) não é habitual a tomada de posição sobre os problemas políticos correntes por importantes que sejam. Consideramos que esta tarefa corresponde geralmente a outras publicações ligadas à actualidade quotidiana. Mas a grave crise política que se abriu em Espanha com a perspectiva das eleições de 14 de Março obriga a dar um salto importante sem qualquer vacilação. Também temos obrigações quando está em causa a vida e o destino do nosso país.
As coisas são muito concretas. Depois de uma campanha oficial destinada aparentemente a elogiar a Constituição, organizada precisamente por alguns que a não votaram, o governo de Aznar e a direita reaccionária passaram a uma ofensiva brutal contra todas as forças que não se deixam enganar com histórias ridículas. Una onda de "patriotismo" da pior espécie estendeu-se pelo país depois do resultado das eleições da Catalunha, que puseram em relevo a possibilidade de se derrotar a direita reaccionária, de terminar com o governo de Aznar, era e é perfeitamente possível, como foi no caso do grupo de Pujol, que sustentou em Barcelona e em Madrid o Partido Popular durante largos anos.
Estes acontecimentos têm uma importância considerável. Por isso, o governo e o Partido Popular passaram da sua medíocre campanha e da sua ofensiva insolente ao ataque brutal e aos habituais truques a que nos têm acostumado (mentiras, insultos, truques policiais e dos serviços secretos) para acompanhar sua campanha "patriótica". Como são muito democratas tentam desfigurar a nova situação criada na Catalunha exagerando o sentido das aspirações do povo basco com a "sã" intenção de colocar uma barreira entre os diversos povos de Espanha.
Tudo isto é grave e coloca questões importantes. As respostas têm de ser imediatas. Chegou a hora de nos mobilizarmos e de votarmos sem vacilações. Os que ontem saíram às ruas para manifestar a sua oposição à guerra preventiva de Bush, os que souberam expressar sua resistência com a greve geral, os que se opõem à presença de tropas espanholas no Iraque e todos quantos recusam a política e a prática do grande capital devem estar à altura da nova situação. E, naturalmente, têm que votar contra a direita e as suas derivações. Nas circunstancias actuais, a abstenção dos que a praticam só porque não encontram candidatos apropriados, em consonância com as suas posições radicalmente anti-capitalistas e revolucionárias, sería inadmissível. Desta vez, à falta dos candidatos que muito desejaríamos, há um objectivo muito claro: ¡Fogo contra a direita reaccionária em 14 de Março!

(1) Antigo dirigente do POUM; Dirigente da Fundação Andreu Ninn
(2) O Boletim electrónico da FAN : ver em http://www.fundanin.org/

Tradução de João P Freire