2003-12-08

LEITURAS QUE ACONSELHAMOS: ENTUSIASMAM E FAZEM AGIR!

A edição portuguesa de Dezembro do Le Monde Diplomatique tem um artigo de Jacques Denis sobre O SOM DO BRASIL DE LULA, no qual se descobrem as novas sonoridades da MPB que despertam depois da vitória de Lula. Fala-se de Lenine (brasileiro, músico e pensador...), de Carlinhos Brown , ... , mas fala-se sobretudo de uma nova consciência que desponta na nova MPB e que já está desperta para as expectativas que Lula vai frustando ... Fiquem com esta de Silvério Pessoa para despertar o apetite da leitura: Afirmar alto e bom som a nossa diferença face a uma globalização que normaliza todas as diferenças. Demasiados dos nossos sofrem a ditadura do Fundo Monetário Internacional e a imposição de normas que nos são estranhas!

O Le Monde Diplomatique é todos os meses uma leitura que não se pode perder!

Ideias à Esquerda, uma revista pensada por João Amaral, tem cá fora, finalmente, o seu 2º número. As mudanças sociais em Portugal marcam o dossier central deste número. Miguel Chaves, um dos subdirectores, escreve no editorial que “Em suma acreditamos que este número tem matéria suficiente para nos pôr a discutir e, naturalmente, a discordar. Quando chegar a hora do balanço final, gostaríamos de constatar que entre os principais eleitores atingidos (leia-se, afrontados) não se contam sobretudo os adeptos do Benfica, do Sporting e de outras colectividades em busca de consagração desportiva ao depararem com o artigo FCPorto, o ano do Dragão. Nesse texto, Jorge Miguez Araújo analisa as razões que converteram esta importante empresa da cidade do Porto na organização de sucesso de 2003, pelo menos no que respeita a taças e trofeus. Quer o conteúdo, quer o léxico deste artigo são sem dúvida peculiares nesta publicação. Deixamos ao leitor o encargo de reflectir se colidem ou se, pelo contrário, contribuem para o pensamento e a intervenção da esquerda.” . Pela nossa parte, achamos que a esquerda também pode e deve pensar sobre estas coisas ...

Ainda no segundo número desta revista, leiam Teses sobre Marx de Bragança de Miranda.

Utopia, revista anarquista de cultura e intervenção , dedica o seu número 16 ao tema economia numa perspectiva libertária. No editorial lê-se que “Seja como for, é nossa opinião que o anarquismo,s e quiser fortalecer a sua influência, precisa de aparecer como uma alternativa sólida na teoria e na prática. Para que isto aconteça, não há que esconder a nossa realidade. Antes é preciso analisar e discutir todos os assuntos”. Nós que não somos anarquistas, aplaudimos este esforço que consolida a nossa opinião sobre a importância da tradição, do pensamento e do património anarquistas para a renovação do socialismo neste século XXI.

No mesmo número de Utopia, descobre-se o MANIFESTO DO MOVIMENTO LIBERTÁRIO CUBANO NO EXÍLIO. Mais uma forma de ver que a oposição a Fidel Castro não está resumida aos reaccionários de Miami. Seleccionamos uma passagem muito interessante: “Hoje, como há 40 anos, o povo de Cuba vive na própria carne a ameaça intervencionista ianque e sofre o terror e o despotismo do castro-fascismo, com a única diferença de que o sistema repressivo castrista agora é mais sofisticado e ainda mais repressivo. As prisões continuam cheias de opositores pacíficos e de jovens constestatários que se revoltam contra a imposição constante do totalitarismo e a falta de liberdade. O paredão de fuzilamento volta a ser a alternativa dos lutadores sociais ou dos desesperados que tentam fugir do absolutismo.”

TRIBUNA SOCIALISTA – Número de Dezembro de 2003!

O número de Dezembro já está disponível! É o primeiro do segundo ano de vida e será o último da fase com o grafismo que já todos conhecem: mais fanzine que jornal ou revista!

O TRIBUNA SOCIALISTA é um espaço socialista para o debate e a renovação do Socialismo. Somos um espaço aberto a todas as correntes e militantes que se identificam com um Socialismo que precisa de permanente renovação para que não repita monstruosidades e aberrações que aconteceram e que ainda acontecem!

Este número 10 está ao alcance de todos os que o solicitem através do nosso blog ou através dos nossos e.mails ou através de carta para o Apartado. Peçam-no, leiam-no e façam-nos chegar a vossa opinião ou comentário críticos.

2003-12-07

SERÁ QUE OS DIRIGENTES DAS ESQUERDAS NÃO QUEREM SER ALTERNATIVA À DIREITA?

Na edição do Público de 03 do corrente mês, uma notícia chamava a atenção pelo seu título ENTENDIMENTO ENTRE O PS E PCP SOBRE CÓDIGO DO TRABALHO.

Para qualquer um que procure, o mais rápido possível, uma alternativa de esquerda ao actual governo de direita, o título convida a uma leitura atenta da notícia. Da leitura dessa notícias e de outras que descobrimos, surgem motivos de esperança e motivos de desalento.

1 – MOTIVOS DE ESPERANÇA

“ O PS e o PCP admitem entendimentos parlamentares para suscitar a fiscalização sucessiva da constitucionalidade dos futuros decretos regulamentares do novo Código do Trabalho” (in Público de 03 de Dezembro))

“ Ontem, após a audiência, Ferro e Carvalhas salientaram visões comuns sobre o andamento da economia nacional” (in Público de 03 de Dezembro)

2 – MOTIVO DE DESALENTO

“Ferro Rodrigues foi porém mais regrado do que Carlos Carvalhas quanto à possibilidade desse entendimento ...” (in Público de 03 de Dezembro)

3 – OUTRO MOTIVO DE DESALENTO
“Louçã anunciou também que caso venha a ser esse o candidato socialista (i.e.António Guterres) o campo político que o Bloco de Esquerda representa necessariamente far-se-á representar com o seu candidato” (in Público de 06 de Dezembro)

4 –MAIS UM MOTIVO DE DESALENTO

“ Renovadores Comunistas: Carlos Brito desaprova frente de Esquerda” (in, Jornal de Notícias de 07 de Dezembro)

3 – O COMENTÁRIO DO TRIBUNA SOCIALISTA

Uma alternativa de esquerda não é impossível. Embora nunca tenha sido experimentada no nosso País, mesmo no PREC. Os governos provisórios não foram obviamente governos de esquerda. Eram uma espécie de governos com políticas que se anulavam devido à composição algo contraditória desses governos. O que é que pode resultar de um governo em que se misturam o PS, o PCP e o PPD?

Uma alternativa de esquerda não é só um slogan, uma consigna. É algo de concreto e que precisa do concreto para se poder definir.

Uma alternativa de esquerda ao actual governo Durão e Portas precisa do contributo, antes de mais, do PS, do PCP e do Bloco de Esquerda. As forças parlamentares de esquerda. Como precisará também do contributo e da adesão dos trabalhadores e cidadãos de esquerda e também doutras organizações e das suas experiências.

Uma alternativa de esquerda não é um simples somatório de votos. Tem de ser muito mais. Tem de ser uma força política plural e convergente capaz definir, aplicar e realizar programas e políticas de transformação e mudança social, política, económica e cultural. Num sentido democrático e socialista!

Infelizmente os movimentos sociais e as lutas laborais têm andado mais à frente, na vontade e na forma que exibem, que as direcções dos partidos parlamentares de esquerda. Infelizmente porque a unidade que os trabalhadores conseguem nas suas acções do dia-a-dia não tem qualquer relação com a “clubite” que tem caracterizado a acção de qualquer um dos partidos de esquerda com assento parlamentar. Sem excepção!

É claro que é motivo de esperança qualquer reunião que as direcções do PS e do PCP consigam fazer. Vencendo o “clubismo” que tem caracterizado a relação entre ambas as direcções. O que se diz destes partidos também se poderia dizer em relação à direcção do Bloco de Esquerda. E em relação a esta poder-se-ia acrescentar que tem sido muito rápida a adaptação ao que de pior tem o parlamentarismo!

Ao contrário da direita que consegue unir-se, apesar das suas diferenças, a esquerda parece ter sistematicamente medo de se unir. E é preciso que se refira que será muito difícil qualquer vitória da esquerda perante um governo de unidade da direita.

É um completo irrealismo a pretensão de Ferro Rodrigues, manifestada há dias, de pretender para as próximas eleições a maioria absoluta para o Partido Socialista. Uma posição que é tomada sem a consulta prévia aos militantes do seu Partido, ainda por cima depois da tomada de posição de Manuel Alegre apelando – correctamente ! – à convocação de um Congresso Extraordinário do PS.

A posição do Bloco de Esquerda (BE), ou melhor, da troikaPSR, UDP e Política XXI – que dirige o BE, é uma posição que revela um profundo sectarismo, para além de demonstrar que os dirigentes bloquistas não aprendem com a História recente. O que está em causa nas eleições presidenciais, é também um orgão do Estado que nunca conheceu a vitória de qualquer candidato apoiado pela direita. Não que os candidatos eleitos tenham recebido o apoio formal, convergente e organizado das direcções dos partidos de esquerda. Mas em todas as eleições o chamado povo de esquerda conseguiu demonstrar muito mais lucidez e capacidade de resposta à direita do que as direcções partidárias da esquerda, fazendo convergir os seus votos.
Tal como aconteceu com Mário Soares, também com António Guterres (se for efectivamente este o socialista a avançar...), será um militante socialista aquele que estará mais bem posicionado para impedir que a direita eleja, pela primeira vez, o seu candidato único. E no apoio convergente do povo de esquerda a António Guterres não estará, em nenhum momento, qualquer adesão às políticas de direita que o governo de Guterres realizou, tal como não esteve também no tempo de Mário Soares.

Os principais dirigentes do BE ao mesmo tempo que revelam tiques de quem se adaptou rapidamente à vida parlamentar, demonstram também que adoptaram o “clubismo” como forma de fazer política. Quando se auto-intitulam como a “esquerda necessária”, os dirigentes do BE copiam o que de pior já nos foi dado e mostrado pelos dirigentes do PS e do PCP: não contribuem nem parece que queiram trabalhar para a definição de uma alternativa de esquerda ao governo de direita!

Todos os dirigentes das esquerdas deveriam aprender com o que a direita faz para conseguir posições que lhe permitam dar cabo de tudo o que cheire a 25 de Abril e a conquistas sociais. Unem-se quando se trata de governo, unem-se quando se trata de presidenciais!

Os dirigentes da esquerda falam, cada um para seu lado, em luta contra a direita, mas depois quase que não conseguem falar entre si.

E num momento em que há uma ofensiva generalizada do liberalismo a nível internacional com ramificações nos planos nacionais (sendo o governo de Durão Barroso um exemplo, como é o de Aznar ou o de Berlusconni) é lamentável que as esquerdas não se consigam por de acordo para respostas políticas comuns, apesar dos seus militantes trabalhadores e jovens passarem a vida a demonstrar no dia-a-dia como é que isso é possível.

Uma alternativa de esquerda em Portugal seria uma experiência única depois do 25 de Abril de 1974. Com programas e políticas de transformação social, política e económica teria, de certeza, um efeito mobilizador não só por parte dos trabalhadores e jovens, como da parte das chamadas classes médias urbanas.


Para uma alternativa de esquerda, todas as esquerdas são esquerdas necessárias!!

João P. Freire