2004-01-10

A ESQUERDA E A CULTURA - Manuel Vázquez Montalbán

"Perante qualquer projecto de construção cultural, a esquerda deverá ter uma dupla atitude. Primeiro, a defesa da sua própria consciência; segundo, lutar contra o medo enquanto valor supremo, contra este medo cultural e ideológico que agora nos transmitem. Lutar contra esse medo, contra tudo o que possa hipotecar a indagação do futuro. E lutar para que os patrimónios culturais estejam ao alcance da imensa maioria ...

É função da esquerda situar-se numa posição de entendimento daquilo que é a violação dos códigos, porque a cultura nos terrenos da criatividade, das artes plásticas, da literatura, pouco seria se se limitasse a assumir o património; se a si mesma não apresentasse como um desafio cada proposta de criatividade.

O desafio é tão grande que o mais surpreendente é vermos que aquilo que basicamente a esquerda fez até hpje para assumir a relação entre política e cultura se limitou à instrumentalização ou à denúncia. Assim sendo, o esforço da esquerda e das chamadas forças de progresso deverá consistir em provocar uma mudança na sua própria cultura
".

Artigo incluído na edição de Janeiro de 2004 do LE MONDE DIPLOMATIQUE. Vale a pena ler o artigo completo!

2004-01-08

O PSD E PP QUEREM LIMITAR A LIBERDADE DE IMPRENSA ...

Por causa do que se tem passado com o processo Casa Pia, a maioria de direita e o governo querem introduzir limitações à liberdade de informar quando estão em causa processos judiciais em curso ...

O Diário de Notícias de hoje dava também conta de que o Presidente da Republica estaria preocupado com o funcionamento das instituições.

Aqui no TRIBUNA SOCIALISTA sempre temos dito que tudo o que se tem passado à volta e com o caso Casa Pia, revela dois aspectos daquilo a que se chama de “regime democrático”:
• O aparelho da Justiça que temos, parece que tem, desde o 25 de Abril, passado ao lado de qualquer transformação democrática. Parece que não é controlado por ninguém e os seus agentes actuam de forma que se pode considerar “corporativa”;
• O aparelho da Justiça, parte do Estado que temos, pertence a uma realidade caracterizada por uma democracia que é crescentemente formal, onde os cidadãos são cada vez mais consumidores em vez de actores activos.

O que se tem passado com o processo Casa Pia, não é obviamente culpa de qualquer abuso de imprensa. Só quem tem medo dos direitos democráticos é que pode apontar o dedo à liberdade de imprensa como a causadora do que afinal tem sido a demonstração de uma Justiça que está a precisar de uma valente reforma democrática!

Não é a liberdade de imprensa que viola o segredo de justiça, não são os jornalistas que fazem as escutas telefónicas, não é nenhum jornal que usa e abusa das prisões preventivas ...

No entanto é de saudar, a imprensa que temos que permite aos cidadãos interrogarem-se sobre uma Justiça que se pretende colocada num pedestal acima de qualquer dúvida ou crítica democráticas! Mais vale cidadãos que se interrogam e questionam, do que cidadãos que vegetam e se limitam a consumir o que o poder quer que eles consumam!

Em todo este cenário, é também confrangedor o espectáculo que a chamada “classe política” vem dando. Considerando como a “classe politica”, os deputados que, apesar de eleitos, parece que se desviam de qualquer debate que mobilize os cidadãos, parece que ignoram os que os elegeram, parece que abdicam de questionar a qualidade da democracia que temos. Com estes comportamentos, é perfeitamente natural que a consequência seja a identificação da Assembleia da Republica, como uma instituição inoperante e desnecessária ...

A democracia não é algo abstracto que encaixe em qualquer visão política. A democracia que os cidadãos sentem é cada vez menos democrática e só destinada a especialistas e elites ...

Esta democracia que vive de jogos de poder e que afasta os cidadãos da participação a todos os níveis, é a grande culpada da crise da justiça , da inoperância das instituições e dos políticos que fabrica. Só que esta democracia é a democracia possível de um liberalismo globalizado que se tem vindo a assumir como um novo totalitarismo, incapaz de qualificar a democracia com mais participação dos cidadãos e com mais direitos democráticos e sociais!

Esta democracia formal e burguesa é a democracia limitada do liberal-capitalismo para o século XXI. Da mesma forma que numa empresa privada, a democracia e os direitos democráticos servem só para as administrações, o liberal-capitalismo tornado poder, quer estender esse conceito a toda a sociedade!

E, mais uma vez, se prova que o liberal-capitalismo está numa crise profunda!

2004-01-04

SOCIALISMO LIBERTÁRIO: QUATRO TEXTOS PARA DEBATE QUE RECOMENDAMOS!

O portal SOCIALISMO LIBERTÁRIO (em castelhano) http://www.socialismolibertario.org é um dos nossos favoritos. Tribuna Socialista partilha com Socialismo Libertário muito dos seus pontos de vista e perspectivas na luta pelo socialismo. Os textos que produzem marcam um percurso politicamente rico e interessante dos seus autores. O resultado é a procura de um socialismo liberto das caricaturas que o condicionaram no século passado e ainda condicionam neste século: o estalinismo totalitário e a social-democracia crecentemente liberal.

Os últimos quatro textos publicados merecem uma leitura e uma reflexão. Têm a particularidade, em três deles, de terem sido escritos há precisamente um ano e, não obstante o tempo, manterem uma actualidade incrível! São um bom contributo para um debate que é preciso estender à esquerda que internacionalmente quer um socialismo capaz de ser alternativo à globalização liberal. Mas um socialismo que surja da sociedade e não das máquinas estatais ou partidárias!

Espanha 1936: viver a utopia http://www.socialismolibertario.org/pdf/Espana1936.pdf

A revolução espanhola foi a maior revolução social do século XX juntamente com a polaca de 1980. E isso pelo enorme laboratório prático e humano da colectivização e inicio da socialização, não desenvolvida, que as massas camponesas e proletárias puseram em marcha em 1936-7. Milhões de operários e camponeses tomaram nas suas mãos o seu destino, começando a actuar de forma autónoma através do seu protagonismo colectivo e, ao fazê-lo, começaram a mudar drasticamente as suas próprias vidas, começando a ser pessoas diferentes, melhores, como poderá sentir quem vir os documentos vivos como o vídeo Viver a Utopia. Trata-se de gente não derrotada porque tinham nos seus corações todo um mundo que queriam construir e sabiam possível porque começaram a imaginá-lo e a criar-lo realmente.” (...)

Veteranos pela Paz http://www.socialismolibertario.org/pdf/Veteranosporlapaz.pdf

Declaração de antigos soldados norte-americanos publicada há um ano no boletim mensal de Socialismo Libertário. O seu conteúdo, apelando à deserção das tropas presentes no Iraque, permanece plenamente actual.

Se os povos do mundo chegarem algum dia a ser livres, isso será quando a condição de cidadão do mundo prevaleça sobre a de soldado de uma nação. Este é o momento. Quando receberem ordens, a vossa resposta terá um fortíssimo impacto nas vidas de milhões de pessoas no Médio Oriente e aqui nos vossos locais de origem. A vossa reacção ajudará a marcar o rumo do nosso futuro. Têm que escolher o caminho. Os vossos comandantes querem que obedeçam. É urgente que pensemos. É urgente que saibamos escolher de acordo com a nossa consciência. Se escolherem resistir, estaremos convosco porque cremos firmemente que o nosso verdadeiro dever está com os povos do mundo e o seu futuro comum(...)


Com Lula ganham os de baixo?
http://www.socialismolibertario.org/pdf/?GananConLulaLosDeAbajo.pdf


Artigo publicado há um ano (Janeiro de 2003) no Boletim de Socialismo Libertário, quando Lula tinha chegado ao poder. O seu conteúdo continua a parecer bastante interessante tendo em conta as últimas contra-reformas do governo Lula.

O presidente operário ganhou as eleições aliando-se a sectores importantes de empresários brasileiros, militares e gente reciclada da velha política. Confiou todas as tarefas financeiras do seu governo a ministros privatizadores, propondo medidas tipicamente neo-liberais, como a separação do Banco central do controlo parlamentar ou uma moeda única latino-americana, tomando como modelo a UE. Já durante a campanha eleitoral afirmou que aceitava os planos do FMI e do BC para o Brasil.
O número dois da candidatura e vice-presidente, homem de direita e magnate da indústria têxtil, é o presidente do Partido Liberal, ligado à conservadora Igreja Universal, promovida pelos EUA para combater a Teologia da Libertação. Do PL também é Adauto, ministro dos transporte, a quem se acusa já de corrupção. Outro ministro do PL, Luiz Fermon de Furlan, é vice-presidente dos empresários de S.Paulo, sem esquecer políticos da ditadura, como José Sarney, que apoiam Lula
.” (...)

Venezuela: Nem militares, Nem empresários
http://www.socialismolibertario.org/pdf/Venezuela.pdf


Este artigo também foi publicado há um ano, em Janeiro de 2003, no boletim mensal de Socialismo Libertário. Os seus conteúdos continuam a permanecer actuais e com interesse para a análise da situação na Venezuela.

Em definitivo, uma personagem (i.e.Chavez) que não tem nada a ver com a esquerda, que se assemelha mais a um Perón ou à velha esquerda estalinista felizmente desaparecida, com os círculos bolivarianos que nos recordam demasiadamente bem os “comités de defesa da revolução” cubanos, na realidade instrumentos contra-revolucionários de controlo do povo, do seu tristemente amigo, o ditador cubano Fidel Castro. Um Chavez que quer impor os seus critérios pessoais a todo o custo, para o que utiliza os métodos tradicionais dos Estados, a polícia e o exército que ocupam fábricas e empresas e que ameaçam com a imposição dos tristemente célebres, na América Latina e não só, Estados de excepção.”(...)

Tribuna Socialista disponibilizará os referidos textos em português no nosso blog e no nosso novo boletim.